História dos azulejos | History of ceramic tiles
O nome “azulejo” deriva da palavra árabe “Al-zulaij”, que significa pequena pedra polida. Sua história remete ás priemeiras civilizações.
Publicado em: 23/08/2023 às 14:05
Os azulejos são uma das mais antigas formas de arte decorativa. Aliado à arquitetura, foi sempre muito utilizado devido à sua durabilidade, propriedades técnicas e riqueza visual. O nome “azulejo” deriva da palavra árabe “Al-zulaij”, que significa pequena pedra polida.
A história dos azulejos remete às primeiras civilizações. Sabe-se que os egípcios no quarto milênio antes de cristo já decoravam suas casas com tijolos vidrados azuis. Os tijolos esmaltados também foram muito utilizados na Mesopotâmia, um exemplar incrível de sua aplicação é a Porta de Ishtar da Babilônia. Originalmente considerada uma das Sete Maravilhas do Mundo Antigo, ela foi construída no quinto século antes de cristo, e decorada com leões, touros e dragões em relevo com um forte azul vidrado no fundo.
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Tiles are one of the oldest forms of decorative art. Allied to architecture, it has always been widely used due to its durability, technical properties and visual richness. The history of tiles goes back to the first civilizations. It is known that the Egyptians in the fourth millennium Before Christ, used to decorate their houses with blue glazed bricks. Enameled bricks were also widely used in Mesopotamia: an incredible example of their application is the Babylon Ishtar Gate. Originally considered one of the Seven Wonders of the Ancient World, it was built in the fifth century BC, and decorated with embossed lions, bulls and dragons with a strong glazed blue background.
(1) Azulejos dos aposentos funerários do faraó Djoser, da Terceira Dinastia do Império Antigo do Egito (ca. 2630-2611 a.C)
(1) Wall tiles from the funerary apartments of King Djoser of Egypt's Old Kingdom Third Dinasty (ca. 2630-2611 b.C)
(2) Portal de Ishtar, originalmente construído com tijolos esmaltados na cidade da Babilônia, na Antiga Mesopotâmia, e que atualmente se encontra reconstituído no Museu Pergamon de Berlim e (3) detalhe do desenho de um leão no mosaico.
(2) The Ishtar Gate, originally built with tiles in the city of Babylon, from Ancient Mesopotamia, which is currently reconstituted in the Pergamon Museum in Berlin and (3) detail of a drawing of a lion in the mosaic.
Os impérios muçulmanos foram responsáveis pela disseminação do uso da cerâmica como revestimento de paredes. Apesar de inicialmente utilizarem mosaicos imitando os bizantinos e criando desenhos com pedaços de pedra, logo sob influência da cerâmica chinesa, acessível através da rota da seda, eles começaram a usar azulejos. Estes, agora já menos espessos, foram amplamente utilizados na arquitetura islâmica, em ambientes internos e externos, como nos monumentais edifícios públicos de Isfahan, no Irã, que foi capital do império Safávida no século dezesseis.
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Muslim empires were responsible for the widespread use of pottery as wall coverings. Although initially they used to make mosaics imitating the Byzantines and create designs with pieces of stone, soon under the influence of Chinese ceramics, accessible through the silk route, they began to use tiles. Those, now thinner, were widely used in Islamic architecture, indoors and outdoors, as in the monumental public buildings of Isfahan, Iran, which was the capital of the Safavid empire in the sixteenth century.
(4) Azulejos da Mesquita do Imã Khomeini (também conhecida como Mesquita Real ou Mesquita Imã), localizada em Isfahan, no Irã, construída para o soberano safavido Shah Abbas, entre 1612 e 1630;
(5) Detalhe de um dos azulejos islâmicos.
(4)Tiles of the Imam Khomeini Mosque (also known as the Royal Mosque or Imam Mosque), located in Isfahan, Iran, built for the Safade ruler Shah Abbas, between 1612 and 1630.
(5) Detail of one of the islamic tiles.
Durante o Império Otomano ficaram famosos os azulejos de Iznik, cidade turca perto de Istanbul, onde eram produzidos azulejos com um brilho especial devido às suas camadas de quartzo, e utilizadas tonalidades de vermelho nunca antes atingidas. Os azulejos eram basicamente decorados com motivos florais, geométricos e caligrafia árabe, devido à não representação de figuras humanas por parte da arte islâmica. Os azulejos de Iznik acabaram sendo muito utilizados nas mesquitas por ajudarem a ressoar o som das rezas e darem uma sensação de amplidão do espaço, também tirando a impressão de peso da estrutura.
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During the Ottoman Empire, the tiles from Iznik, a Turkish city near Istanbul, became famous because they were produced with a special shine due to their layers of quartz, and used shades of red that had never been reached before. The tiles were basically decorated with floral and geometric motifs and Arabic calligraphy, due to the non-representation of human figures by Islamic art. Iznik tiles ended up being widely used in mosques because they help to resonate the sound of prayers and give a feeling of spaciousness to the space, also taking away the impression of the structure's weight.
(6) e (7): Azulejos de Iznik
(6) and (7): Iznik's ceramic tiles.
Na Península Ibérica os azulejos foram introduzidos pelos Mouros, e a qualidade do trabalho realizado nessa época pode ser vista no palácio Alhambra, construído pelos reis Nasrid de Granada nos séculos 13 e 14, última dinastia islâmica da região. Os azulejos utilizados, em diversos formatos, revestem as paredes compondo lindos desenhos geométricos coloridos.
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In the Iberian Peninsula, tiles were introduced by the Moors, and the quality of them at that time can be seen in the Alhambra palace, built by the Nasrid kings of Granada in the 13th and 14th centuries, the last Islamic dynasty in the region. The tiles used in different formats cover the walls, composing beautiful colored geometric designs.
(8) e (9): Azulejos do Palácio de Alhambra, construído em Granada, na Espanha, sob a dominação moura entre os séculos XIII E XIV.
(8) and (9): Tiles of the Alhambra Palace, built in Granada, Spain, under Moorish domination between the 13th and 14th centuries.
Mas foi em Portugal a partir do século 16 que a arte de azulejar foi totalmente abraçada e se transformou em expressão cultural nacional. Feitos já no formato quadrangular, geralmente com quatorze centímetros, os azulejos foram amplamente utilizados em prédios públicos, privados e religiosos, revestindo paredes internas e fachadas.
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But it was in Portugal, in the 16th century, that the art of tiling was fully embraced and became a national cultural expression. Made in square format, usually fourteen centimeters long, the tiles were widely used in public, private and religious buildings, covering internal walls and facades.
(10) - (12): Painéis com azulejaria original portuguesa.
(10) - (12): Panels with original Portuguese tiles.
Muito populares no século 17, os azulejos holandeses de Delft eram geralmente decorados com figuras centrais isoladas e delicados motivos nas quatro extremidades que davam um efeito de união quando compostos. Esses azulejos sofreram grande influência da importação de porcelana chinesa Ming pela Companhia das Índias Holandesa, que estava na moda na época e levou aos fabricantes de azulejos a imitar a sua coloração azul e branca.
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Very popular in the 17th century, Dutch Delft tiles were usually decorated with isolated central figures and delicate motifs at the four ends that gave a bonding effect when composed. These tiles were heavily influenced by the import of Chinese Ming porcelain by the Dutch India Company, which was trending at the time and led tile makers to imitate their blue and white coloration.
(13) - (14): Azulejos holandeses originais.
(13) - (14): Original Dutch tiles.
Já no Brasil colônia os azulejos portugueses e holandeses foram muito bem recebidos e incorporados à nossa cultura, tanto por suas características decorativas quanto técnicas, pois os azulejos são impermeáveis protegendo da umidade, são fáceis de limpar e refletem o sol garantindo melhor conforto térmico nas fachadas. É possível encontrar belos exemplos da época colonial principalmente no Norte, Nordeste e Rio de Janeiro, como os lindos painéis setecentistas da pequena Igreja Nossa Senhora da Glória do Outeiro.
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In colonial Brazil, Portuguese and Dutch tiles were very well received and incorporated into our culture, both for their decorative and technical characteristics, as the tiles are waterproof, protecting from moisture, are easy to clean and reflect the sun, ensuring better thermal comfort on the facades . It is possible to find beautiful examples from the colonial era, especially in the North, Northeast and Rio de Janeiro, such as the beautiful 18th-century panels of the small Nossa Senhora da Glória do Outeiro Church.
(16) e (17): Azulejos da Igreja de Nossa Senhora da Glória do Outeiro, construída entre 1714-1730, no Rio de Janeiro.
(16) and (17): Tiles of the Church of Nossa Senhora da Glória do Outeiro, built between 1714-1730, in Rio de Janeiro.
A partir dos anos trinta a renovação da arquitetura brasileira reavivou o uso dos azulejos, especialmente devido ao movimento neocolonial, que buscava retomar a utilização de materiais locais. Em 1940 Paulo Rossi Osir criou a Osiarte, empresa de azulejaria que realizou incríveis trabalhos como o painel de Portinari no Ministério da Educação e Saúde Pública no Rio de Janeiro, projeto de Le Cobusier concluído em 1945 com a colaboração de Lucio Costa, Niemeyer e Reidy, entre outros.
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From the 30's onwards, the renovation of Brazilian architecture revived the use of tiles, especially due to the neocolonial movement, which sought to resume the use of local materials. In 1940, Paulo Rossi Osir created Osiarte, a tile company that produced incredible works such as Portinari's panel at the Ministry of Education and Public Health in Rio de Janeiro, a project by Le Cobusier completed in 1945 with the collaboration of Lucio Costa, Niemeyer and Reidy , and others.
(18) Painel de Portinari no Palácio Capanema (que abrigava o Ministério da Educação e Saúde, inaugurado em 1945), no Rio de Janeiro; (19) Detalhe dos azulejos.
(18) Portinari's Panel at Palácio Capanema (at where used to be the Ministry of Education and Health, inaugurated in 1945), in Rio de Janeiro;
(19) Detail of the tiles.
(20) Painel de azulejos revestindo a Igreja da Pampulha, inaugurada em Belo Horizonte, Minas Gerais, em 1943;
(21) Detalhe dos azulejos.
(20) Tile panel covering the Church of Pampulha, inaugurated in Belo Horizonte, Minas Gerais, in 1943;
(21) Detail of the tiles.
Com Athos Bulcão, carioca que havia trabalhado com Portinari no mural de São Francisco de Assis na Pampulha, o azulejo ganhou formas geométricas simples e foi utilizado perfeitamente integrado à arquitetura moderna. Trabalhando com Oscar Niemeyer a partir de 1955, Athos revestiu Brasília com seus lindos painéis ritmados, que continuam modernos até hoje.
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With Athos Bulcão, from Rio de Janeiro, who had worked with Portinari on the mural of São Francisco de Assis in Pampulha, the tiles gained simple geometric shapes and was used perfectly integrated into modern architecture. Working with Oscar Niemeyer from 1955 onwards, Athos covered Brasília with his beautiful rhythmic panels, which remain modern to this day.
(22) e (23): Paineis de azulejos de Athos Bulcão.
(22) e (23): Tile panels by Athos Bulcão.
Fontes das imagens:
(1) www.metmuseum.org
(2) www.chaldeannews.com
(3) www2.uned.es
(4) www.istockphoto.com (Foto: Guenter Guni)
(5) www.br.pinterest.com
(6) www.humidfruit.wordpress.com
(7) www.yayimages.com
(8) www.christiesrealestate.com
(9) www.stocksy.com (Foto: Bisual Studio)
(10) www.jorgemartinez.com.uy
(11) www.skyscrapercity.com
(12) www.abrancoalmeida.com
(13) www.catawiki.com
(14) www.catawiki.com
(15) www.royalhuisman.com
(16) www.blog.c2.tours
(17) www.azulejosantigosrj.blogspot.com (ou de autoria própria?)
(18) www.archdaily.com (Foto: Marina de Holanda)
(19) www.lorenaarquiteta.blogspot.com
(20) www.portal.iphan.gov.br/
(21) www.flickr.com (Foto: fpizarro)
(22) www.motafer.wordpress.com
(23) www.nararoesler.art/ (Foto: Edgard Cesar)